segunda-feira, 26 de abril de 2010

José Maria Videira, meu avô


Assinalado o 25 de Abril de 1974, dia em que foi restituída a liberdade e a democracia ao Povo português, quero hoje e aqui recordar meu avô materno que, se fosse vivo, completaria, hoje, mais um aniversário.

Foi um avô especial. Um avô que teceu ideias, que foi um revolucionário e por isso mesmo, pagou cara a sua determinação na luta pelos seus ideais, sofrendo a prisão, a deportação e a tortura.

Na verdade se meu avô foi um revolucionário, um republicano convicto, um combatente pela liberdade e pela democracia, minha avó Otolinda, sua mulher, foi uma verdadeira mulher de armas, uma mãe abnegada que, na ausência do marido e com tremendas dificuldades teve de criar seus filhos, também eles,"deportados", por força da circunstância.

Na foto, meu avô preso em Angra do Heroísmo (antes daqui seguir para o Tarrafal)recebendo a visita dos filhos. Da esquerda para a direita, Emilia (minha mãe) e meus tios António e Helena.

Tenho grandes recordações e muitas saudades do meu avô.

Era um homem implacável, um estudioso, um homem de rija tempera para quem a educação e a instrução, a formação do homem eram objectivos prioritários.

Por isso mesmo, enquanto deportado em Santa Cruz da Graciosa (Açores), ensinou a ler e a escrever algumas dezenas de analfabetos que como reconhecimento o homenagearam, entregando-lhe o documento com várias páginas com as suas assinaturas e que segue abaixo.

Ainda hoje recordo com emoção o conhecimento que travei na Graciosa com um velhinho que tinha sido um dos seus alunos e se agarrou a mim a chorar e entre lágrimas me disse:"Deixe-me dizer-lhe obrigado!".

Falar do meu avô daria um post imenso.

Foi militar, ainda muito jovem, combateu em França na guerra de 1914-1918.

Foi lider e responsável pela Organização Revoluciuonária dos Sargentos.

Nunca se vangloriou dos seus feitos ou do que sofreu, por isso mesmo, injustamente foi esquecido "pelo" 25 de Abril e por todos aqueles a quem coube a atribuição das ordens honorificas.

Sei de alguns que as receberam, como se os feitos fossem seus quando, na verdade, foram de meu avô.

Sei disso e muito mais.

Sei dos rasgados elogios que dele me foram feitos por outros lutadores antifascistas como Emidio Santana, Correia Pires (anarco-sindicalistas), Josué Martins Romão (que esteve na revolta dos marinheiros e preso com meu avô no Tarrafal), Raul Rego (jornalista e politico) e Manuel João da Palma Carlos (advogado e seu defensor).

Ainda hoje recordo com saudade as conversas que sobre politica tinha com os netos, nunca os instigando a que perfilhassem esta ou aquela ideia, mas sim que defendessem os valores da liberdade, da democracia, da solidariedade e fraternidade.

Lembro que um dia ao assumir cargo como dirigente sindical me disse em tom muito sério:"Nunca te esqueças que és um trabalhador".

Meu avô Videira (como o tratava) nasceu na Bendada, freguesia do concelho de Sabugal, distrito da Guarda, em 26.04.1896.
Faleceu em Lisboa no dia 16.06.1976

Elogio funebre a meu avô feito por Correia Pires (de costas):Ao centro na foto, minha avó Otolinda.

Hoje, meu avô José Maria completaria mais um aniversário e um dia após a comemoração do dia da liberdade quero lembrar quem tanto lutou por ela e foi um cidadão exemplar.

A sua ficha da PIDE

A concluir, como "mera curiosidade", refiro que no tempo em que a actividade politica de meu avô ainda era lembrada e o apelido "dizia tudo", eu e meu irmão Adalberto, por sermos netos de quem éramos, fomos escorraçados das primeiras carteiras da escola que frequentávamos e recambiados para o final da aula.

Ontem como hoje, tenho enorme orgulho nos meus apelidos.
Videira pelo que acabo de relatar e por ter origem em gente humilde e trabalhadora da sua aldeia natal, a Bendada; Santos por ser do meu avô paterno, membro do Partido Republicano Português e um dos implantadores da República.

==========================

Agradeço a:

* Julia Coutinho do blog "As causas de Júlia" o link que faz para a leitura deste post.
- http://ascausasdajulia.blogspot.com/

(Neste blog estão editadas inumeras referências a antifascistas que se votaram à causa causa da liberdade e da democracia. Recomendo a sua visita.)

* João Aristides Duarte, pelo post que editou sobre meu avô no blog "Capeia Arraiana"
- http://capeiaarraiana.wordpress.com/

* Sociedade Filarmónica Bendadense por ter editado a referência que é feita a meu avô no blog "Capeia Arraiana"
- http://sociedadefilarmonicabendadense.blogspot.com/

==========================

quarta-feira, 21 de abril de 2010

25 de Abril de 1974, o dia libertador

A minha homenagem aos militares do 25 de Abril e a todos os que durante 48 anos não calaram a sua voz, que sofreram a prisão e o degredo, para todos os que lutaram pela democracia e ainda para todos que deram a vida pelos seus ideais e não viveram a aurora do dia libertador.

Foi há 36 anos que o Movimento das Forças Armadas devolveu aos Portugueses a liberdade e a democracia, depois de 48 anos de ditadura fascista de Salazar e Caetano.
(eu sei que a muitos "puritanos" da direita o termo fascista não tem cabimento,mas...recordo-lhes as saudações hitlerianas que os ditos governantes faziam e há ampla documentação fotográfica)


Nas ruas foi sempre visivel a unidade entre os militares e o povo

Os cravos floriram nas espingardas e nos canhões dos blindados.
...E assim a revolução ficou conhecida pela Revolução dos Cravos

A imprensa publicou durante o dia diversas edições dando a conhecer o que se passava

terça-feira, 13 de abril de 2010

Luiz Pacheco...



==========

escrevi o poema que segue após a morte de Luíz Pacheco.
com ele e o post que faço, pretendo lembrar o homem, o escritor.
(...que, quando quiz, foi...MUITO BOM! )

==========


dois tempos na (des)monotorização do tempo...
empurra-se o tempo no sufoco...
resiste-se.

este é o tempo na esmola dos anos,
no estrangular da vida,
na constância da hipocrisia.

este é o tempo em que os luíses afrontam
e os pachecos resistem
no conjunto do nome, no todo do apelido.

no tempo ressuscitado,
coma-se a telepatia
de quem pensa e não diz
que o incómodo fornica
a virtude donzela,
os segredos da tia...


==========

NOTA:

Contrariando a minha frontalidade, peço perdão à memória do visado, mas... para manter os "costumes" linguisticos desta página, substituí no poema as frases "evidentes" por "coma-se" e por "os segredos"...
Uma pena...

==========

Luiz Pacheco (1925-2008)
Escritor, crítico e editor português (Lisboa, 7.5.1925 - Montijo, 5.1.2008). A sua diversa actividade enreda-se nas atribulações de uma vida marcada pela irregularidade dos amores, pelo escândalo das relações, os processos judiciais, a prisão, os filhos, o álcool, a fome, a doença.

==========

Algumas obras de LuiZ Pacheco:
Carta-Sincera a José Gomes Ferreira (1958), O Teodolito (1962), Crítica de Circunstância (1966), Textos Locais (1968), Exercícios de Estilo(1971, reed. aumentada, 1998), Pacheco vs. Cesariny (1973), Textos de Circunstância (1977), Textos Malditos (1977), Textos de Guerrilha - I (1979), O Caso das Criancinhas Desaparecidas (1981), Textos de Guerrilha - II (1981), Textos do Barro (1984), Textos Sadinos (1991), O Uivo do Coiote (1992), Memorando, Mirabolando (1995), Cartas na Mesa (1996, apresentação e notas de Serafim Ferreira), Prazo de Validade (1998), Isto de estar vivo (2000), Uma Admirável Droga (2001), Mano Forte (2002), Raio de Luar (2003), Figuras, Figurantes e Figurões (2004), Diário Remendado 1971-1975 (2005), Cartas ao Léu (2005).

==========

domingo, 4 de abril de 2010

...e a mentira camuflada engole a traição.


…e a mentira camuflada engole a traição
na tristeza muda da verdade…

nas palavras necessárias de quem ilude,
nenhuma mentira é igual
às cinzas da verdade…

nenhum reverso faz o verso
da transparência…

…e assim, a mentira, degola-se na verdade
como arte fantasiada…


=================
para quem de anil veste a face que tinge a mentira...
=================