
Quando acordo só, descalço de emoções, elejo o dia como companheiro destemido das luzes que há em mim e vêm de ti.
...Como ante estreia do sol de inverno que aquece a flacidez da carne por volta das onze da manhã...
Depois de erguer a preguiça e levantar o corpo da horizontalidade descansada, penso em ti e no pensamento atrevido.
...Matando-me com o teu olhar, como se ele fossem balas de desejo e a vida parasse expectante do que possa acontecer.
De pé, olhando-me ensonado e olhos ramelosos, alongo os lábios e descubro o marfim dentário que a escova e o dentífrico vão ginasticar de alto a baixo.
Quando o duche me baptiza e o corpo é moldado pelas mãos da ensaboadela, estou pronto para a molha derradeira em que o prazer do duche é eternizado.
Barba, cabelo, desodorizante, água de colónia, tudo com a simetria do hábito sequenciado no ritmo do relógio, sincopado pela rádio que debita noticias na loucura dos ritmos matinais.
Quando por fim concluo o rito matinal, enfeito-me com os caprichos da sociedade e avanço para ela, ciente de que mecanizo o homem e hipoteco a frontalidade nos conceitos dum status que, falsamente, se diz vanguarda e que no íntimo escraviza o homem no conservadorismo da falsa nova retórica.
======