
há trinta e cinco anos eu já sabia que ía acontecer um movimento militar que nos podia restituir a liberdade.
desde o “balão-de-ensaio” do 16 de Março que eu andava avisado e alerta…
no dia 25 de Abril de 1974, ainda não eram sete horas da manhã,estava eu a preparar-me para enfrentar mais um dia de trabalho na Sida-sueca quando, o telefone toca e meu irmão Adalberto, ex-militar em Timor, me informa do que estava a acontecer.
lembro que chorei.
lembro que num rasgo simultâneo ri, fechei com força as mãos e disse para comigo:“tem que ser, tem que resultar!”.
ultrapassei todos os pormenores infinitos que dou à higiene diária e corri para a Baixa de Lisboa.
lembro os GNR’s, "assarapantados", bem como os militares leais à hipocrisia do governo de Caetano, lembro os militares libertadores com que me cruzei e as minhas constantes mudanças pelos cenários dos prós e contras.
nesse dia, disciplinado, pontual e cumpridor, nem pensei nos meus deveres profissionais.
fiquei-me, indiscriminadamente, pelo Rossio, Baixa, Praça do Comércio, Chiado, Ribeira das Naus, António Maria Cardoso, Largo do Camões, Largo do Carmo…
corri de local em local os locais onde a revolução aconteceu e o povo vibrou, assistindo a tudo,tudo,tudo!
quatro ou cinco vezes corri a casa de meus avós maternos, na Rua João Brás, aos Poiais de S.Bento, para relatar pormenores do que estava a acontecer.
o avô José Maria, já doente, conhecido no Exército e nos meios oposicionistas por Sargento Videira e líder da ORS – Organização Revolucionária dos Sargentos, rejubilava com o que sucedia e, da primeira vez que lhe fiz relatos, olhando-me nos olhos, num olhar de alegria e, simultaneamente, de tristeza por não viver “in loco” o momento, diz-me: “Hoje, na rua só falto eu”.
ele que esteve em revoluções e revoltas, não estava nesta…
realmente, não estava.
estava doente, impossibilitado de sair de casa.
não fora a doença e uma vida de constante luta que iniciou na sua participação na guerra de 1914/1918 e continuou por revoluções, revoltas, prisões, deportações e Tarrafal e ele, concerteza viveria esse dia de forma bem diferente mas, seguramente, bem participativa.
o dia libertador de 25 de Abril de 1974 aconteceu há 35 anos, mas continuo a trazê-lo tão presente e tão vibrante como então o vivi.
porque lembro o que a minha e tantas famílias passaram na prisão e na deportação, porque lembro todos os homens que me deram a conhecer e que conheci e que travaram uma luta desenfreada para que todos pudéssemos ser livres e senhores da nossa vontade.
uns tiveram a felicidade de viver esse dia e o que ele significou e significa para o futuro de Portugal, outros, infelizmente, não conseguiram chegar a essa luz libertadora.
ambos são credores do nosso respeito, de os termos presentes na nossa memória, de mesmo sendo tantos, gritarmos bem alto os seus nomes e lembrarmos às gerações presentes e vindouras que a liberdade se deve a eles e àqueles que desprendidamente lutaram e a conseguiram no dia 25 de Abril de 1974.
para que não hajam meninos e homens pendentes, aqui lembro aquele que foi o MEU dia e é afinal o dia de todos os Portugueses que vivem e preservam os valores da liberdade e da democracia!
por isso, sem timidez há que gritar: VIVA O 25 DE ABRIL!
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Lisboa,25 de Abril de 2009
...e o Povo saíu à rua!
foi um povão!
...e eu estava lá!!!





Lisboa, Largo do Carmo
homenagem ao Capitão Salgueiro Maia

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os meus agradecimentos à jornalista Brasileira Maria Aparecida Torneros da Silva a qual, segundo sua informação,difundiu este post.
para si, aquele abraço fraterno com o meu reconhecimento.
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