sexta-feira, 24 de abril de 2009

foi há trinta e cinco anos...


há trinta e cinco anos eu já sabia que ía acontecer um movimento militar que nos podia restituir a liberdade.

desde o “balão-de-ensaio” do 16 de Março que eu andava avisado e alerta…

no dia 25 de Abril de 1974, ainda não eram sete horas da manhã,estava eu a preparar-me para enfrentar mais um dia de trabalho na Sida-sueca quando, o telefone toca e meu irmão Adalberto, ex-militar em Timor, me informa do que estava a acontecer.

lembro que chorei.

lembro que num rasgo simultâneo ri, fechei com força as mãos e disse para comigo:“tem que ser, tem que resultar!”.

ultrapassei todos os pormenores infinitos que dou à higiene diária e corri para a Baixa de Lisboa.

lembro os GNR’s, "assarapantados", bem como os militares leais à hipocrisia do governo de Caetano, lembro os militares libertadores com que me cruzei e as minhas constantes mudanças pelos cenários dos prós e contras.

nesse dia, disciplinado, pontual e cumpridor, nem pensei nos meus deveres profissionais.

fiquei-me, indiscriminadamente, pelo Rossio, Baixa, Praça do Comércio, Chiado, Ribeira das Naus, António Maria Cardoso, Largo do Camões, Largo do Carmo…

corri de local em local os locais onde a revolução aconteceu e o povo vibrou, assistindo a tudo,tudo,tudo!

quatro ou cinco vezes corri a casa de meus avós maternos, na Rua João Brás, aos Poiais de S.Bento, para relatar pormenores do que estava a acontecer.

o avô José Maria, já doente, conhecido no Exército e nos meios oposicionistas por Sargento Videira e líder da ORS – Organização Revolucionária dos Sargentos, rejubilava com o que sucedia e, da primeira vez que lhe fiz relatos, olhando-me nos olhos, num olhar de alegria e, simultaneamente, de tristeza por não viver “in loco” o momento, diz-me: “Hoje, na rua só falto eu”.

ele que esteve em revoluções e revoltas, não estava nesta…

realmente, não estava.

estava doente, impossibilitado de sair de casa.

não fora a doença e uma vida de constante luta que iniciou na sua participação na guerra de 1914/1918 e continuou por revoluções, revoltas, prisões, deportações e Tarrafal e ele, concerteza viveria esse dia de forma bem diferente mas, seguramente, bem participativa.

o dia libertador de 25 de Abril de 1974 aconteceu há 35 anos, mas continuo a trazê-lo tão presente e tão vibrante como então o vivi.

porque lembro o que a minha e tantas famílias passaram na prisão e na deportação, porque lembro todos os homens que me deram a conhecer e que conheci e que travaram uma luta desenfreada para que todos pudéssemos ser livres e senhores da nossa vontade.

uns tiveram a felicidade de viver esse dia e o que ele significou e significa para o futuro de Portugal, outros, infelizmente, não conseguiram chegar a essa luz libertadora.

ambos são credores do nosso respeito, de os termos presentes na nossa memória, de mesmo sendo tantos, gritarmos bem alto os seus nomes e lembrarmos às gerações presentes e vindouras que a liberdade se deve a eles e àqueles que desprendidamente lutaram e a conseguiram no dia 25 de Abril de 1974.

para que não hajam meninos e homens pendentes, aqui lembro aquele que foi o MEU dia e é afinal o dia de todos os Portugueses que vivem e preservam os valores da liberdade e da democracia!

por isso, sem timidez há que gritar: VIVA O 25 DE ABRIL!

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Lisboa,25 de Abril de 2009

...e o Povo saíu à rua!

foi um povão!

...e eu estava lá!!!







Lisboa, Largo do Carmo
homenagem ao Capitão Salgueiro Maia



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os meus agradecimentos à jornalista Brasileira Maria Aparecida Torneros da Silva a qual, segundo sua informação,difundiu este post.

para si, aquele abraço fraterno com o meu reconhecimento.

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22 comentários:

Anónimo disse...

Era muito pequena, mas desde cedo que que o meu pai me ensinou, que a minha liberdade,só é minha alguem a conquistou para mim.
Nunca mais esqueci isso.
Vanda

Rosette disse...

João, este seu relato me emocionou.
A força que imprime na simplicidade das suas palavras cativa e prende.Imagino o que esse dia significa para os portugueses.
Um beijo no seu coração sensivel e tão poético

Angela Ladeiro disse...

Relembrei os meus passos, nos seus! Foi emocionante.
Já não o foi tanto, alguns meses depois!...
Mas a liberdade conseguida foi realmente importante. Eu que tinha um filho de 9 anos e tinha medo de que ele aos 18, fosse para a guerra, como tinha ido o seu pai.
OBRIGADO! Sem escolha!...
Agora, que essa liberdade não seja beliscada, é o que ando a pedir... aos santinhos!

Maria disse...

Com emoção te li. E nestes dias as memórias passam como se de "um filme" se tratassem. É o registo que fica, que ficará para sempre.
Obrigada, João.

Um beijo e um cravo Vermelho

Cida Torneros disse...

Querido Amigo
parabéns pela homenagem!
todos festejamos junto aos irmãos portugueses, porque restabeleceu-se a honradez e a liberdade, naquela data, coroadas de sugestivos, simbólicos e inesquecíveis cravos vermelhos.
beijos brasileiros
Maria Aparecida Torneros

Unknown disse...

Excelente post, parabéns!
E viva o 5 de Abril!

Beijinhos e bom fim de semana,
Ana Martins

Paula Martins disse...

Querido João, neste texto deste vida a um acontecimento que não nos esquecemos nunca mais. Eu só tinha 10 anos mas recordo cada momento vivido como se fosse hoje.
Por tudo, 25 de Abril Agora e Sempre.
(Estou neste momento a preparar-me para ir á "Rádio Azul" ler a minha poesia sobre o 25 de Abril e a liberdade)

Beijinhos

ARTISTA MALDITO disse...

VIVA, João!

25 de ABRIL SEMPRE, SEMPRE!

Foi um dia, e os que se seguiram, que não esqueceremos. Eu estava a terminar o liceu, recordo com saudade.

Beijinho
Isabel

Juani disse...

ViVa, un gran dia si señor
saluditos

Paula Raposo disse...

Um relato maravilhoso, João! Foi lindo o sentimento que nos uniu. Muitos beijos.

Caçadora de Emoções disse...

João,
Vim deixar-lhe um cravo vermelho acompanhado de muitas emoções e sorrisos :))) Com saudades.
Tudo de bom.

Elvira Carvalho disse...

Onde estava eu no 25 de Abril? A morar, na Av. de S. Paulo, frente há igreja Ѫ Sr.ª de Fátima, aquela mesma onde o Papa esteve o mês passado. E a trabalhar como secretária (lá chamavam assim) no Colégio dos Irmãos Maristas. Era eu a responsável pela secretaria, e por tudo o que passava por ela. No dia 25 de Abril, cheguei ao emprego e liguei o rádio e só se ouviam, músicas clássicas. Nada de notícias. Quando os alunos começaram a chegar acompanhados dos pais, (a grande maioria, eram militares) alguns contaram aos irmãos que se falava, de uma revolta na metrópole (também era assim que se designava Portugal, pelos residentes, excepção feita pelos nativos que chamavam a Portugal, o puto, por ser muito pequeno em relação a Angola).
Tentei telefonar à minha irmã que trabalhava em Lisboa, na Almirante Reis, mas não consegui. Durante todo o dia o tentei e nunca o consegui. À noite, a rádio interrompeu a música e deu a informação do que tinha acontecido, com uma informação curta e pouco esclarecida, como se temessem que a revolta ainda fosse esmagada e voltasse tudo ao mesmo. Só a meio do dia 26 se soube realmente o que tinha acontecido.
As coisas não seriam assim hoje, mas naquela altura Angola ainda não tinha televisão, e os jornais e rádio só emitiam aquilo que a PIDE deixava.
Depois foi mais de um ano de uma vida de guerra. Musseques incendiados, mortes, recolheres obrigatórios, todo o espaço ao ar livre do Colégio, foi ocupado por tendas militares, onde dormiam os residentes dos musseques incendiados e saqueados. Chegaram a estar mais de mil pessoas incluindo crianças, a maioria de raça negra, mas também alguns brancos. A tropa mandava para lá as refeições, e eu e os irmãos, fazíamos a distribuição. É que o Irmão Santini, director do Colégio, era também o mais alto representante da Cáritas em Luanda.
Daí que íamos também a alguns musseques, especialmente ao Cazenga, para levar ajuda àqueles que lá estavam.
Como vê eu não vivi, nada daquilo que vocês lembram com saudade. E quando vim já foi em Agosto de 75, pouco antes da independência de Angola que foi em Novembro.
Não concebo uma vida feliz sem Liberdade, e sei bem como era antes do 25 de Abril.
Mas Liberdade sem pão, também não faz ninguém feliz e vejo como vive grande parte do país.
Penso que os objectivos do 25 de Abril, ficaram só pela metade, e mesmo essa metade, vejo-a cada dia mais ameaçada, pelos falsos democratas que nos governam.
Um abraço e bom fim-de-semana

mariam [Maria Martins] disse...

João,

belíssimo texto, na primeira pessoa!
belíssimo post!

estive fora, só agora pude vir deixar-lhe um grande abraço e um beijinho
mariam

Ailime disse...

"Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
livres habitamos a substância do tempo "
De:
Sophia de Mello Breyner Andresen

Grata amigo por descrever este dia maravilhoso que nunca esqueceremos!
Eu também tive o privilégio de estar no Largo do Carmo em 25.04.74!
Indescritível e inesquecível!
Abril, sempre!
Um abraço.

Graça Pires disse...

Um testemunho emocionante. Lembro que também chorei. Viva o 25 de Abril! Um abraço, amigo.

Caperucita disse...

Por falta de tiempo ando un poco desaparecida, pero siempre deseando poder disfrutar de vuestras letras.
Como siempre, un placer leerte.
Besos.

MRB disse...

Un gusto volver a tu blog y leerte. Ciertamente, el cruce del Atlántico resulta gratificante all visitarte.

Abrazos.

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Olá amigo, que bela homenagem!
e que bela postagem você nos trás de presente.linda!
beijosssssssssssssssss
Apareça.

Anónimo disse...

Amigo,obrigada pelas suas palavras no meu canto.
Tb.o visito com amizade.
Gostei de ler o post sobre o 25 de Abril.Que dizer das imagens??
Maravilhosas.
Beijo.
isa.

Martinho da Silva disse...

Também estive lá com o povo,povão,como você diz.Fui militar de Abril e não podia faltar.
Parabéns pelo post,abraço

alfabeta disse...

Estava a ler este post e estava a emocionar-me, na altura tinha dois anos, mas a todos os que lutaram pela liberdade, os meus profundos agradecimentos. Quando o povo se une, nada os vence.

Bruno Cardona disse...

Boa noite, parabéns pelo seu interessante blog, está muito bem elaborado e o conteudo é de muito bom gosto. Um optimo domingo.
Bruno Cardona