
Assinalado o 25 de Abril de 1974, dia em que foi restituída a liberdade e a democracia ao Povo português, quero hoje e aqui recordar meu avô materno que, se fosse vivo, completaria, hoje, mais um aniversário.
Foi um avô especial. Um avô que teceu ideias, que foi um revolucionário e por isso mesmo, pagou cara a sua determinação na luta pelos seus ideais, sofrendo a prisão, a deportação e a tortura.
Na verdade se meu avô foi um revolucionário, um republicano convicto, um combatente pela liberdade e pela democracia, minha avó Otolinda, sua mulher, foi uma verdadeira mulher de armas, uma mãe abnegada que, na ausência do marido e com tremendas dificuldades teve de criar seus filhos, também eles,"deportados", por força da circunstância.

Na foto, meu avô preso em Angra do Heroísmo (antes daqui seguir para o Tarrafal)recebendo a visita dos filhos. Da esquerda para a direita, Emilia (minha mãe) e meus tios António e Helena.
Tenho grandes recordações e muitas saudades do meu avô.
Era um homem implacável, um estudioso, um homem de rija tempera para quem a educação e a instrução, a formação do homem eram objectivos prioritários.
Por isso mesmo, enquanto deportado em Santa Cruz da Graciosa (Açores), ensinou a ler e a escrever algumas dezenas de analfabetos que como reconhecimento o homenagearam, entregando-lhe o documento com várias páginas com as suas assinaturas e que segue abaixo.
Ainda hoje recordo com emoção o conhecimento que travei na Graciosa com um velhinho que tinha sido um dos seus alunos e se agarrou a mim a chorar e entre lágrimas me disse:"Deixe-me dizer-lhe obrigado!".

Falar do meu avô daria um post imenso.
Foi militar, ainda muito jovem, combateu em França na guerra de 1914-1918.
Foi lider e responsável pela Organização Revoluciuonária dos Sargentos.
Nunca se vangloriou dos seus feitos ou do que sofreu, por isso mesmo, injustamente foi esquecido "pelo" 25 de Abril e por todos aqueles a quem coube a atribuição das ordens honorificas.
Sei de alguns que as receberam, como se os feitos fossem seus quando, na verdade, foram de meu avô.
Sei disso e muito mais.
Sei dos rasgados elogios que dele me foram feitos por outros lutadores antifascistas como Emidio Santana, Correia Pires (anarco-sindicalistas), Josué Martins Romão (que esteve na revolta dos marinheiros e preso com meu avô no Tarrafal), Raul Rego (jornalista e politico) e Manuel João da Palma Carlos (advogado e seu defensor).
Ainda hoje recordo com saudade as conversas que sobre politica tinha com os netos, nunca os instigando a que perfilhassem esta ou aquela ideia, mas sim que defendessem os valores da liberdade, da democracia, da solidariedade e fraternidade.
Lembro que um dia ao assumir cargo como dirigente sindical me disse em tom muito sério:"Nunca te esqueças que és um trabalhador".
Meu avô Videira (como o tratava) nasceu na Bendada, freguesia do concelho de Sabugal, distrito da Guarda, em 26.04.1896.
Faleceu em Lisboa no dia 16.06.1976

Elogio funebre a meu avô feito por Correia Pires (de costas):Ao centro na foto, minha avó Otolinda.
Hoje, meu avô José Maria completaria mais um aniversário e um dia após a comemoração do dia da liberdade quero lembrar quem tanto lutou por ela e foi um cidadão exemplar.

A sua ficha da PIDE
A concluir, como "mera curiosidade", refiro que no tempo em que a actividade politica de meu avô ainda era lembrada e o apelido "dizia tudo", eu e meu irmão Adalberto, por sermos netos de quem éramos, fomos escorraçados das primeiras carteiras da escola que frequentávamos e recambiados para o final da aula.
Ontem como hoje, tenho enorme orgulho nos meus apelidos.
Videira pelo que acabo de relatar e por ter origem em gente humilde e trabalhadora da sua aldeia natal, a Bendada; Santos por ser do meu avô paterno, membro do Partido Republicano Português e um dos implantadores da República.
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Agradeço a:
* Julia Coutinho do blog "As causas de Júlia" o link que faz para a leitura deste post.
- http://ascausasdajulia.blogspot.com/
(Neste blog estão editadas inumeras referências a antifascistas que se votaram à causa causa da liberdade e da democracia. Recomendo a sua visita.)
* João Aristides Duarte, pelo post que editou sobre meu avô no blog "Capeia Arraiana"
- http://capeiaarraiana.wordpress.com/
* Sociedade Filarmónica Bendadense por ter editado a referência que é feita a meu avô no blog "Capeia Arraiana"
- http://sociedadefilarmonicabendadense.blogspot.com/
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