
Em vésperas dos meus céus completarem mais um azul, quero parar no tempo, olhar para trás e lembrar...
Lembrar que há muitos anos atrás, menino atrevido e extremamente meditativo, escrevi um poema que tem marcado a minha vida.
Um poema que "digerido" no seu contexto todos diziam ser impossivel para um menino tão...menino.
Um poema que tantos anos volvidos continuo a ler com espanto na constante pergunta de como foi possivel ter escrito com "sentimento adulto".
Esse poema que, a seguir transcrevo, nunca foi editado em livro, embora tenha tido "mil e uma" leituras na rádio, em espectáculos e em tertúlias literárias.
Desde há anos que, numa enorme moldura, está perpetuado em casa de minha Mãe.
Os anos passam, mas sempre que a visito e olho para ele, interrogo-me, salivo a saudade e engulo em seco.
Este é o meu poema! Aquele, o tal!
............
sou louco...
sou louco.
dizem para aí.
eu sei.
não corro,
não fujo,
não procuro socorro.
sou louco.
dizem.
chicoteiam as faces da alma
vazia de penumbra.
sou louco.
dizem.
não emendo
na procura duma consolação,
não vivo
procurando a evasão
de esquecer
o que dizem.
sou louco.
dizem.
...porque quero ter sombras na parede.
sou tudo.
uma besta - tudo neles,
que passam, riem, comentam e dizem:
é louco!
caminho mais só, sem dó deles.
...mas louco sem loucura não é louco.
...e sinto desejo profundo, digo mesmo:
louco é o mundo que caminha a esmo!